O povo Dogon e sua compreensão sobre as estrelas



No noroeste da África, em um vale remoto do atual Mali, vive o povo Dogon, descendente de uma antiga tribo nômade que se estabeleceu na região por volta do ano 1000 depois de Cristo. De acordo com tradições orais, os Dogons teriam deixado o Egito antigo devido a perseguições religiosas, assim como os seguidores do faraó Akhenaton. Muitos estudiosos acreditam que esse povo preservou tradições e mitos egípcios que desapareceram em outras partes do mundo.



Na mitologia Dogon, o deus supremo Ama é descrito como o criador do universo e de todas as formas de vida. A primeira criatura gerada por Ama foi Nomo, um ser sagrado associado à água e à fertilidade. Segundo as lendas, Nomo multiplicou-se em várias partes, mas uma delas se rebelou contra o criador. Como punição, Ama destruiu essa parte e espalhou suas cinzas pela Terra.

Os Dogons afirmam que Nomo desceu dos céus em uma arca envolta em fogo, que pousou sobre a Terra em meio a uma tempestade. Para celebrar essa antiga visita, o povo realiza até hoje um festival religioso em homenagem a Nomo. Durante a cerimônia, são utilizadas máscaras de madeira, algumas com séculos de existência, que contam por meio de símbolos e esculturas as histórias dos deuses e dos ancestrais.



As tradições Dogon despertam o interesse de pesquisadores por apresentarem semelhanças com mitos egípcios. Assim como Akhenaton afirmava ser descendente do deus Sol, Aton, os Dogons dizem ter recebido o conhecimento do deus celestial Ama. Tanto Nomo quanto Akhenaton são descritos com crânios alongados, o que levou alguns estudiosos a questionar se haveria uma origem comum entre as duas culturas.

Os Dogons vivem atualmente no planalto de Bandiagara, e grande parte de seu conhecimento é transmitida apenas a iniciados. Na década de 1920, os antropólogos franceses Marcel Griaule e Germaine Dieterlen estudaram o povo e registraram informações surpreendentes. Os sacerdotes Dogon afirmavam que Ama vinha de uma estrela específica da constelação de Sírius, o mesmo astro associado à deusa Ísis pelos antigos egípcios. Essa estrela, chamada de Sírius B pela astronomia moderna e de Potolô pelos Dogons, é invisível a olho nu, fato intrigante, pois seu registro científico só ocorreu séculos depois.



A ciência moderna confirma que Sírius B é uma anã branca, uma estrela extremamente densa e pequena, descoberta apenas com telescópios sofisticados. No entanto, os Dogons já descreviam com precisão a existência dessa estrela e até mesmo sua órbita em torno de Sírius A, algo que só foi comprovado no século XX. Seu símbolo tradicional representa esse movimento orbital de forma precisa, o que levou alguns pesquisadores a questionar como um povo antigo poderia possuir um conhecimento astronômico tão avançado.

Há várias tentativas de explicar esse enigma. Alguns antropólogos sugerem que os Dogons podem ter aprendido sobre Sírius B com exploradores ocidentais, e que o mito teria sido reinterpretado ao longo das gerações. Outros afirmam que as histórias Dogon já existiam muito antes da chegada dos europeus à região, o que torna essa hipótese improvável.



Entre as teorias mais controversas está a de que o ser chamado Nomo poderia ter sido um visitante extraterrestre, responsável por transmitir aos Dogons conhecimentos sobre o cosmos. Para os defensores dessa ideia, a precisão das informações sobre o sistema estelar de Sírius seria uma prova de contato com seres vindos de outro mundo.

Os céticos acreditam que a coincidência entre a mitologia Dogon e a astronomia moderna se deve à fluidez da tradição oral. Segundo eles, os Dogons poderiam ter incorporado informações astronômicas modernas em seus mitos sem perceber, acreditando tratar-se de saberes antigos.

Ainda assim, o caso continua sendo um dos mais enigmáticos da antropologia e da arqueoastronomia. Se as descrições Dogon forem realmente milenares, resta a pergunta: de onde veio esse conhecimento? Teria sido herdado de uma civilização perdida, transmitido por visitantes de outros planetas ou seria apenas uma coincidência notável?



Independentemente da resposta, as tradições do povo Dogon permanecem como um elo vivo entre mito e ciência, guardando segredos que desafiam a compreensão moderna sobre a história humana e o possível contato com outras formas de vida inteligente no universo.